Humans of science: leonor beleza (Pt)

© Rosa Reis

Quem são os cientista de hoje? Inspirado no projeto “Humans of New York”, a publicação Ar Magazine vira os holofotes para os cientistas.

(Available in English)

“Aprendi muito sobre o mundo da ciência desde que me tornei Presidente da Fundação Champalimaud.

Não tendo formação científica eu própria, os meus contactos tinham sido ou muito longínquos – provenho do mundo do direito – ou pouco intensos mas bem próximos – quando fui Ministra da Saúde.

Esta experiência política, aliás, terá contribuído para que António Champalimaud me tenha escolhido.

E, desde o início, uma chamada telefónica faz agora vinte anos, compreendi que o que o Fundador desejava era uma instituição que fosse promissora para a saúde humana.

Tive de concentrar num período curto uma aprendizagem intensiva: ir aos melhores lugares conhecer os mais reputados cientistas, os laboratórios com mais sucesso, decisores que escolhem caminhos e alocam recursos. E visitar universidades, fundações, financiadores, biotérios, bancadas e equipamentos.

E, também, precisei de recolher múltiplos dados, sobre a saúde e as doenças, sobre o que se gasta e o que resulta, sobre as áreas em que falta saúde e não há investimento adequado.

Descobri gente sábia e generosa. Conheci cientistas que partilharam o que sabiam para me ajudar, também fascinados pela história que contava: alguém que deixara tantos recursos sem detalhar caminhos, e escolhera quem não era nem familiar nem amigo.

Mergulhei num mundo fascinante. E sim, encontrei realidades de que não fazia ideia. Compreendi muito melhor porque alguns me diziam que a clínica sem investigação não iria longe.

Mas, sobretudo, tenho vindo a perceber duas coisas.

A primeira é que, com o adequado investimento, em recursos humanos e financeiros, nenhum mecanismo gerador de desequilíbrio e de doença ficará por esclarecer. Tornou-se para mim óbvio que a clínica e a investigação são dois braços da mesma procura de alívio do sofrimento, e que têm de se poder articular.

A segunda tem a ver com a cultura que permite avanços. Tem de valorizar a curiosidade, a capacidade de cruzar conhecimento e criatividade, a recusa do compromisso e do preconceito, o culto da compaixão e do rigor – e, também, muita juventude e alguma experiência.

Não sei se algum dia entenderei bem os cientistas, tão diferentes dos juristas e dos políticos dos meus mundos passados.

Mas sei que a sociedade só progride se confiar na ciência, acreditando nela e permitindo-lhe abrir caminhos.”

Leonor Beleza é a Presidente da Fundação Champalimaud


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