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Os seus descobridores propõem dar-lhe o nome de “jedek”. Apenas 280 pessoas, numa diminuta aldeia da selva malaia, falam esta língua.
Segundo os números mais recentes do Ethnologue, um dos catálogos de referência das línguas do mundo, são falados hoje no nosso planeta 7.097 idiomas. Desses, apenas uns 6% têm mais de um milhão de falantes – e são usados por 94% da população mundial.
Acontece que línguas que nunca tinham sido identificadas como tais surjam de vez em quando, algures no mundo. Foi o caso do jedek. O jedek foi descoberto por dois linguistas da Universidade de Lund, na Suécia, e é falado por uma comunidade de 280 pessoas, numa aldeia do norte da Malásia Peninsular. A primeira análise feita por estes especialistas das especificidades dessa língua, que demorou vários anos a completar, foi anunciada por aquela universidade sueca no início de Fevereiro, tendo sido publicada na revista Linguistic Typology uns meses antes.
Há anos que Niclas Burenhult estuda uma outra língua, o jahai, falada por cerca de mil indivíduos que vivem nas regiões montanhosas da selva tropical da província de Kelantan, na fronteira entre a Malásia e a Tailândia.
No decurso do estudo do jahai, Burenhult e a sua colega Joanne Yager estavam a realizar um levantamento linguístico em várias aldeias da zona. E, durante uma visita à povoação de Sungai Rual, repararam que parte das pessoas que lá viviam (que são colectores-recolhedores) utilizavam uma língua diferente do jahai.
“Apercebemo-nos de que grande parte da aldeia falava uma língua diferente”, diz Yager num comunicado da sua universidade. “Usavam palavras, fonemas e estruturas gramaticais que não são usadas em jahai.”
A descoberta foi surpreendente, uma vez que a aldeia já tinha sido estudada por outros cientistas.”O jedek não é a língua de uma tribo desconhecida da selva; é falado numa aldeia que foi previamente estudada por antropólogos.”, diz Burenhult. “Mas, enquanto linguistas, nós colocámos outras perguntas e encontrámos algo que tinha passado despercebido aos antropólogos.”
Os aldeões chamam a esta língua “jdɛk”, explicam os autores no seu artigo (o símbolo ɛ representa um “e” pronunciado como na palavra portuguesa “meta”). O nome da língua é de origem desconhecida mas poderá ser derivada do nome de um grupo hoje extinto “que vivia nas margens do rio Jedok, um tributário do rio Golok, que faz fronteira entre a Malásia e a Tailândia”. Seja como for, Burenhult e Yager propõem que se passe a utilizar o nome jdɛk – jedek em caracteres latinos – “como nome científico do objecto da nossa pesquisa linguística.”
Como todas as línguas, o jedek reflecte o estilo de vida daqueles que o falam. E, por exemplo, não possui palavras referentes ao conceito de propriedade (como comprar ou vender), mas tem várias palavras que significam “trocar” e “partilhar”.
“Há muitas maneiras de se ser humano, mas muito frequentemente as nossas sociedades modernas e urbanas são utilizadas como medida-padrão daquilo que se considera ser universalmente humano”, diz Burenhult. “Temos muito que aprender, em particular sobre nós próprios, com a riqueza linguística e cultural que existe pelo mundo fora e que é muitas vezes pouco documentada e está em perigo de extinção.”
Ana Gerschenfeld works as a Science Writer at the Science Communication Office at the Champalimaud Neuroscience Programme
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